A epidemiologia de doenças de plantas nada mais é do
que o estudo das populações do patógeno e do hospedeiro e do contato
entre elas, que leva a algo novo: a doença. Esta pode ser considerada como
uma terceira classe de população: a população de lesões ou de plantas
doentes. Dessa forma, a epidemiologia, pode distribuir a doença nos aspectos
temporais e espaciais.
O objeto de arte da epidemiologia é melhor
compreender o patossistema, de como ocorre o crescimento da população de lesões
ou de plantas doentes no tempo e no espaço, levando em conta, as populações do
hospedeiro e do patógeno (e do vetor), assim como as influências do clima e do
homem sobre o patossistema considerado. Somente com essa compreensão o controle
racional da doença pode ser alcançado.
A epidemiologia de doenças de plantas foi fundada
por Vanderplank, em 1963, que identificou os padrões regulares, propondo os princípios
gerais dessa área de conhecimento, classificando esses padrões em dois grupos: as
doenças de juros simples ou monocíclicas (plantas infectadas durante o
ciclo da cultura não servem de fonte de inóculo para novas infecções no mesmo
ciclo) e as doenças de juros compostos ou policíclicas (plantas infectadas
durante o ciclo da cultura servem de fonte de inóculo para novas
infecções no mesmo ciclo). Como exemplos desses padrões, podemos observar
algumas doenças abaixo:
Há vários modelos para explicar o crescimento
temporal das doenças. Dentre esses modelos, podemos citar o modelo
monomolecular, ligado às doenças de juros simples e o modelo logístico,
ligados às doenças de juros compostos.
Para o crescimento espacial de doenças, temos vários
padrões, como a distribuição da doença no campo de forma regular, ao acaso e
agregado.
No estudo de caso, foram enfatizadas as doenças cancro
cítrico e huanglongbing.
O cancro cítrico tem como agente causal, a bactéria Xanthomonas axonopodis pv. citri, com dispersão pela chuva + vento,
a distâncias curtas, com padrão espacial fortemente agregado, a presença de aerossóis
é frequente, mas não funcionais. O controle da doença se dá pela erradicação da
planta doente e, demais plantas a partir desta, num raio de 30 m. No passado, a
doença era 100% altamente agregado, mas com a introdução da larva
minadora (Phyllocnistis citrella), em
1996, essa situação mudou, a distribuição da doença, no ano de 1999,
apresentava um valor de 79% com agregação média ou acaso.
http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/agosto2005/fotosju297online/ju297pg03a.jpg
A hipótese levantada para a mudança desse padrão era
que o patossistema do cancro cítrico, em SP (até 1996), não estava completo. O patossistema
completo era o que ocorria na Ásia: a bactéria, o hospedeiro e a larva minadora.
No ano de 1999, houve mudança da lei em São Paulo, para a erradicação da doença,
além dos 30 m, os talhões que apresentavam a incidência > 0,5%, todo o bloco
(ou talhão) é eliminado. De 2001 a 2009, o comportamento foi mais ou menos
estável. Isso é um exemplo de ajuste entre pesquisa e defesa, porém a partir de
junho de 2009, houve um relaxamento da lei estadual e em consequência disso, houve
um aumento na incidência de talhões infectados.
O huanglongbing (HLB) foi registrado no Estado de São
Paulo e atualmente é uma das mais sérias doenças dos citros, com o aumento significativo
de talhões infectados, pois além de apresentar plantas sintomáticas, há o dobro
de plantas assintomáticas.
http://www.caes.gov.tw/english/images/plant_02_5.jpg
O controle da doença se dá pela utilização de mudas
sadias, pela inspeção e erradicação, com controle químico do vetor. A forma de disseminação
da doença ocorre por duas formas: disseminação primária (o patógeno é
trazido de fora da plantação por insetos já infectivos a partir de fontes de
inóculo externos) e pela disseminação secundária (o patógeno se
dissemina de plantas infectadas para plantas sadias dentro da plantação). No
primeiro caso, os inseticidas e a erradicação são ineficientes, enquanto que no
segundo caso, são eficientes (na própria propriedade).
De modo contrário do que se pensa, o controle do HLB
é tecnicamente fácil, baseado na inspeção e erradicação frequente da região
considerada (com o uso do controle químico também). Deve haver cooperação entre
os produtores e o governo deve impor regras mais rígidas para a implementação
da Instrução Normativa 53 de 2008, pois o Estado de São Paulo tem a estrutura e
o conhecimento para inspecionar e erradicar o HLB. Em resumo: tudo depende de vontade
política para a inspeção e erradicação desta doença.
Nenhum comentário:
Postar um comentário