terça-feira, 16 de outubro de 2012

Aula 8 (Teórica)

AULA TEÓRICA 08 – EPIDEMIOLOGIA, CONCEITOS GERAIS E ESTUDOS DE CASO

A epidemiologia de doenças de plantas nada mais é do que o estudo das populações do patógeno e do hospedeiro e do contato entre elas, que leva a algo novo: a doença. Esta pode ser considerada como uma terceira classe de população: a população de lesões ou de plantas doentes. Dessa forma, a epidemiologia, pode distribuir a doença nos aspectos temporais e espaciais.

O objeto de arte da epidemiologia é melhor compreender o patossistema, de como ocorre o crescimento da população de lesões ou de plantas doentes no tempo e no espaço, levando em conta, as populações do hospedeiro e do patógeno (e do vetor), assim como as influências do clima e do homem sobre o patossistema considerado. Somente com essa compreensão o controle racional da doença pode ser alcançado.

A epidemiologia de doenças de plantas foi fundada por Vanderplank, em 1963, que identificou os padrões regulares, propondo os princípios gerais dessa área de conhecimento, classificando esses padrões em dois grupos: as doenças de juros simples ou monocíclicas (plantas infectadas durante o ciclo da cultura não servem de fonte de inóculo para novas infecções no mesmo ciclo) e as doenças de juros compostos ou policíclicas (plantas infectadas durante o ciclo da cultura servem de fonte de inóculo para novas infecções no mesmo ciclo). Como exemplos desses padrões, podemos observar algumas doenças abaixo:



Há vários modelos para explicar o crescimento temporal das doenças. Dentre esses modelos, podemos citar o modelo monomolecular, ligado às doenças de juros simples e o modelo logístico, ligados às doenças de juros compostos.

Para o crescimento espacial de doenças, temos vários padrões, como a distribuição da doença no campo de forma regular, ao acaso e agregado.

No estudo de caso, foram enfatizadas as doenças cancro cítrico e huanglongbing.

O cancro cítrico tem como agente causal, a bactéria Xanthomonas axonopodis pv. citri, com dispersão pela chuva + vento, a distâncias curtas, com padrão espacial fortemente agregado, a presença de aerossóis é frequente, mas não funcionais. O controle da doença se dá pela erradicação da planta doente e, demais plantas a partir desta, num raio de 30 m. No passado, a doença era 100% altamente agregado, mas com a introdução da larva minadora (Phyllocnistis citrella), em 1996, essa situação mudou, a distribuição da doença, no ano de 1999, apresentava um valor de 79% com agregação média ou acaso.

 http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/agosto2005/fotosju297online/ju297pg03a.jpg

A hipótese levantada para a mudança desse padrão era que o patossistema do cancro cítrico, em SP (até 1996), não estava completo. O patossistema completo era o que ocorria na Ásia: a bactéria, o hospedeiro e a larva minadora. No ano de 1999, houve mudança da lei em São Paulo, para a erradicação da doença, além dos 30 m, os talhões que apresentavam a incidência > 0,5%, todo o bloco (ou talhão) é eliminado. De 2001 a 2009, o comportamento foi mais ou menos estável. Isso é um exemplo de ajuste entre pesquisa e defesa, porém a partir de junho de 2009, houve um relaxamento da lei estadual e em consequência disso, houve um aumento na incidência de talhões infectados.

O huanglongbing (HLB) foi registrado no Estado de São Paulo e atualmente é uma das mais sérias doenças dos citros, com o aumento significativo de talhões infectados, pois além de apresentar plantas sintomáticas, há o dobro de plantas assintomáticas.

http://www.caes.gov.tw/english/images/plant_02_5.jpg

O controle da doença se dá pela utilização de mudas sadias, pela inspeção e erradicação, com controle químico do vetor. A forma de disseminação da doença ocorre por duas formas: disseminação primária (o patógeno é trazido de fora da plantação por insetos já infectivos a partir de fontes de inóculo externos) e pela disseminação secundária (o patógeno se dissemina de plantas infectadas para plantas sadias dentro da plantação). No primeiro caso, os inseticidas e a erradicação são ineficientes, enquanto que no segundo caso, são eficientes (na própria propriedade).

De modo contrário do que se pensa, o controle do HLB é tecnicamente fácil, baseado na inspeção e erradicação frequente da região considerada (com o uso do controle químico também). Deve haver cooperação entre os produtores e o governo deve impor regras mais rígidas para a implementação da Instrução Normativa 53 de 2008, pois o Estado de São Paulo tem a estrutura e o conhecimento para inspecionar e erradicar o HLB. Em resumo: tudo depende de vontade política para a inspeção e erradicação desta doença.

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